quarta-feira, 6 de maio de 2009

SONETO

A lágrima é a alma liquefeita
Que embora tendo sombra e brilho
Transparente é em sua perfeita
_____Forma. E quando cai por seu trilho
_____De alegria rica ou tristeza
_____Doente, explode -> grão de milho <-
Em toda sua flor-branqueza.
Lágrima é a alma que se derrama
Às vezes leve, e na aspereza
_____Também: flor de fogo sem flama -
_____Que se desfaz salgando a boca
_____Tal se limpa poço de lama.
Lama e alma: cai no céu e toca
O rosto em sua fuga pouca.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

CORAÇÃO

O matagal nasceu da poeira das rachaduras do piso
o telhado caiu com o peso das plantas alimentadas pela chuva
sem chão ou topo
as paredes solitárias começam por desmanchar
e vão caindo uma por uma
até nem ruínas existirem mais
e volta tudo ao antes primitivo
a vida verdejante toma conta do que antes parecia só morte
e por fim
diante do que não mais sobra
nem sombra de que ali vivera alguém
só resta vida pura
sem vestígio da morte de uma família.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

ABSOLVIÇÃO

Um poço cheio de cadáveres de meninos
escolas de grades grossas
casas convenientemente fechadas
diante do desconforto dum não-lar.
Um poço cheio de cadáveres de meninos
ruas: exércitos de meninos soldados
florestas: ruas de meninos soldados.
Diante da fome
Diante do frio
Diante da pobreza
Um poço cheio de cadáveres de meninos
transborda
de sangue infectado por alucinógenos
alguns nadam
outruns boiam
tentando escapar
da fatídica absorvição.

RUMO DIREÇÃO NADA

Flutuo?
Afundo?
Boio sem rumo direção nada?
Fujo?
Fico?
Faz-se de conta que eu parto?
Bloqueio?
Aparo?
Reparo no imediato sem conta?

Se sou fuga
Se sou espaço
Estrago a mim
...........em mim.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O PODER DE INTERVIR

Os Estados Unidos lançaram DUAS bombas atômicas.

Os Estados Unidos lançaram ao espaço vários foguetes.

Os Estados Unidos interveem política e militarmente nos países do leste há décadas.

O Iran não pode ter energia atômica. Estados Unidos, França, podem.

A Coréia do Norte não pode lançar foguetes para pôr satélites de comunicação no espaço, pois é a mesmíssima tecnologia usada para bombardear Japão e Estados Unidos. Mas quem controla o alcance dos mísseis norteamericanos?

Tirando que o Iran pode realmente fazer uma bomba atômica, ou a Coréia do Norte realmente criar um míssil que atinja países ao redor, qual a diferença do que os Estados Unidos, a França, e os outros países do conselho de segurança da ONU fazem?

A diferença é que os Estados Unidos não permite que ninguém mais tenha poder. É o medo do leão, que expulsa todo filho seu quando começam a surgir os primeiros pelos da juba. E isso tudo, toda essa tecnologia da morte, quem trouxe ao mundo?

Proteger sua terra é uma coisa, impedir que outras nações soberanas busquem seus próprios caminhos, e ameaçá-las com armas e discursos políticos inflamados é outra coisa.

O senhor Obama é a maior de todas as ilusões capitalistas, ele é a ilusão de igualdade, de liberdade, de fraternidade. Ele é um negro na Casa Branca! Não obstante ele ser mestiço, escrever em sua biografia que É mestiço, e NUNCA ter dito ser negro, ele É o sonho dos desvalidos, com sua divindade que fora carpinteiro e crucificado pela maior potência do mundo, o senhor Obama AUMENTOU o contingente de homens no Afeganistão, enquanto trapaceava o mundo dando uma canetada para retirar as tropas do Iraque com um belo prazo ainda de ocupação e lucro de empresas norteamericanas.

Como escrevi no ensaio anterior: o mito do superman é o louvor da arma. Quem tem a maior arma é falicamente o mais poderoso. Tirante o fato do senhor Obama talvez acreditar na própria falácia de AMERICAN DREAM, e que seja o próprio superman, THE SELF-MADE MAN, e que ele seja, desta feita, o salvador do mundo, a.k.a. capitalismo, o senhor Obama só dá mostras que é o que é, o presidente dos Estados Unidos da América, não o salvador do mundo, e os interesses norteamericanos são simples, parafraseando um desenho animado yanque: “Tentar dominar o mundo.”

E o maior pesadelo deste conglomerado de Estados, que se não fosse por Benjamin Franklin, e ainda antes, no trato do Mayflower, teria se esfacelado em vários pequenos países, é ver sua hegemonia militar-político-economico desvanecer ante os próprios olhos.

Os Estados Unidos são uma crença. A crença em sua própria imortalidade como império, pois todos os seus sábios devem ter descoberto a forma certa como evitar o inexorável colapso de todos os impérios da história. Provavelmente é a FÉ que o capitalismo é flexível, e indestrutível. Porém em seu ato de FÉ, os Estados Unidos esquecem também que além de indestrutível e flexível, ele é volátil, hoje está com alguém, como antes esteve com a Inglaterra, antes com Portugal, antes com a Itália (Florença). Esquecem que o capitalismo é uma amante ingrata, ela nos abandona quando mais precisamos dela, para se deitar com o próximo da linha de sucessão. Talvez o capitalismo seja Gertrudes, muda a cama para o outro lado do Atlântico, mas o amante continua sendo da mesma família. Esquecem que o ato do presidente pedir mais dinheiro, bilhões, trilhões de dólares, e ser atendido, não é só um ato insano e louco, produzir dinheiro sem lastro, isto é, passar cheque sem fundo baseado na minha fama de grande homem de negócios, é o mesmo que deixar a porta eternamente aberta para a destruição. Um dia alguém vai ter que pagar por tanto dinheiro, e nem todo o tesouro do mundo será suficiente.

O senhor Obama é o superman do capitalismo, ele praticamente salvou-o da crise, mas como todo leitor de Comics norteamericanas sabe, todo ano tem uma crise nova para alavancar as vendas dos produtos, a crise no capitalismo é situação sine quae non de sua própria existência, o medo do senhor Obama e de todos os príncipes que tomarão a coroa burguesa da presidência dos Estados Unidos da América, é imaginar que na esquina da próxima crise estará esperando o próximo amante de Gertrudes, e finalmente venham reclamar o preço dos cheques sem fundo.

quinta-feira, 5 de março de 2009

BLOCO DO FIM DA FESTA

Quando o surdo marca
é meu corpo todo quem escuta
é meu corpo todo quem treme
arrepia bate
não há caixa não há pandeiro
há só o surdo
o surdo em de dentro do meu peito
o surdo forte pesado
ao resto todo estou eu surdo
nada de atabaque ou tamborim ou outro tambor
só o surdo que nunca cala
mesmo nas paradas
só o surdo que marca
só o surdo que mantém
ritmo impecável
batendo os meus tímpanos
arrepiando o meu espírito.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

SONETO XLIII

Que faz um homem que depois do seu grilhão
Vê-se posto à puríssima sã liberdade?
Que ensinam as nações sobre este galardão?
______Eis que vês França, terra de mui dignidade.
______Por anos foi cativa, presa dos nazistas.
______Quando solta o que fez? Guerra à africanidade.
Israel, onde ficam as santas vistas
De Jerusalém. Ontem massacre e holocausto,
Hoje é casa de monstros, nome: terroristas.
______A terra que lhes demos -> tratado de Fausto <-
______Na mesmoraumentaram com bruto canhão.
______E hoje derramam sangue inocente no asfalto!
Que faz o homem depois que sai do seu grilhão?
Aprende muito bem a sua vil lição.

DIANTE DA BARBÁRIE

Bradou, na nota preliminar
do seu monumental Os Sertões, Euclides da Cunha:
"E foi, na significação integral da palavra,
um crime.
Denunciemo-lo"

O que se faz hoje na faixa de Gaza é uma sangria,
não à Democracia, não à Liberdade, não à Razão:
faz-se sangria da Humanidade.

Não bastasse um muro que revigora a Apartheid,
não bastasse separar uma nação em dois pontos,
o que Israel faz na palestina é uma chacina,
uma monstruosidade, só comparável ao que
o Brasil fez contra Belo Monte e o que o fascismo
capitalista fez na Europa.

Talvez nem isso! Hitler foi O Mal, tudo que a
nossa história fez foi mostrar O Mal, subjugando
e matando em câmaras de gás os judeus!

Por acaso há diferença no que faz agora Israel?
Pergunto-me: como classificar barbáries?
Como compará-las?
O genocídio feito pelos ibéricos e os anglo-saxões
na América é menor do que é feito hoje na
faixa de gaza?
O extermínio perpetrado contra os judeus
é desculpa para que façam o mesmo contra
outra etnia mais fraca?

como comparar barbáries?
por acaso o extermínio de uma tribo irmã
(árabes e judeus são semitas, filhos do mesmo
pai, mas de diferentes mães, Agah e Sarah,
todos nós, aculturados ou pelo sangue,
filhos do pai das nações) é menos cruel
do que o extermínio de alguém que não te
é parente, como o nazi-fascismo fez na europa,
e o mercantilismo europeu na América e na África?

como contabilizar as vítimas?
por corpos, por traumas, por violações de mulheres,
pela orfandade, pela memória do que fica?

quem fará o mea culpa?
o nosso crime imperdoável nos relegou pelo menos
duas obras primas: Os Sertões e Grande sertão:
veredas, o Estado afogou os destroços de Canudos
para que se esquecesse do que cometemos a nós mesmos!
Mas ficou o texto, talvez o livro mais editado da história
do Brasil e o livro mais excepcional de nossa história,
respectivamente.

A poesia fica, denunciando, sentindo, se não explica,
pelo menos resgata a memória dos mutilados, dos
mortos, das estupradas, dos órfãos, a poesia fica
e nos faz lembrar a ferida nunca cicatrizada,
pois a barbárie não é um crime,
é uma insurreição do homem contra
a Humanidade.

Nós nos lembramos, e também não nos esqueceremos
da barbárie em Gaza.

Da barbárie em Gana.

Da barbárie em Libéria.

Da barbárie em Haiti.

Da barbárie.