terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

SONETO XLIII

Que faz um homem que depois do seu grilhão
Vê-se posto à puríssima sã liberdade?
Que ensinam as nações sobre este galardão?
______Eis que vês França, terra de mui dignidade.
______Por anos foi cativa, presa dos nazistas.
______Quando solta o que fez? Guerra à africanidade.
Israel, onde ficam as santas vistas
De Jerusalém. Ontem massacre e holocausto,
Hoje é casa de monstros, nome: terroristas.
______A terra que lhes demos -> tratado de Fausto <-
______Na mesmoraumentaram com bruto canhão.
______E hoje derramam sangue inocente no asfalto!
Que faz o homem depois que sai do seu grilhão?
Aprende muito bem a sua vil lição.

DIANTE DA BARBÁRIE

Bradou, na nota preliminar
do seu monumental Os Sertões, Euclides da Cunha:
"E foi, na significação integral da palavra,
um crime.
Denunciemo-lo"

O que se faz hoje na faixa de Gaza é uma sangria,
não à Democracia, não à Liberdade, não à Razão:
faz-se sangria da Humanidade.

Não bastasse um muro que revigora a Apartheid,
não bastasse separar uma nação em dois pontos,
o que Israel faz na palestina é uma chacina,
uma monstruosidade, só comparável ao que
o Brasil fez contra Belo Monte e o que o fascismo
capitalista fez na Europa.

Talvez nem isso! Hitler foi O Mal, tudo que a
nossa história fez foi mostrar O Mal, subjugando
e matando em câmaras de gás os judeus!

Por acaso há diferença no que faz agora Israel?
Pergunto-me: como classificar barbáries?
Como compará-las?
O genocídio feito pelos ibéricos e os anglo-saxões
na América é menor do que é feito hoje na
faixa de gaza?
O extermínio perpetrado contra os judeus
é desculpa para que façam o mesmo contra
outra etnia mais fraca?

como comparar barbáries?
por acaso o extermínio de uma tribo irmã
(árabes e judeus são semitas, filhos do mesmo
pai, mas de diferentes mães, Agah e Sarah,
todos nós, aculturados ou pelo sangue,
filhos do pai das nações) é menos cruel
do que o extermínio de alguém que não te
é parente, como o nazi-fascismo fez na europa,
e o mercantilismo europeu na América e na África?

como contabilizar as vítimas?
por corpos, por traumas, por violações de mulheres,
pela orfandade, pela memória do que fica?

quem fará o mea culpa?
o nosso crime imperdoável nos relegou pelo menos
duas obras primas: Os Sertões e Grande sertão:
veredas, o Estado afogou os destroços de Canudos
para que se esquecesse do que cometemos a nós mesmos!
Mas ficou o texto, talvez o livro mais editado da história
do Brasil e o livro mais excepcional de nossa história,
respectivamente.

A poesia fica, denunciando, sentindo, se não explica,
pelo menos resgata a memória dos mutilados, dos
mortos, das estupradas, dos órfãos, a poesia fica
e nos faz lembrar a ferida nunca cicatrizada,
pois a barbárie não é um crime,
é uma insurreição do homem contra
a Humanidade.

Nós nos lembramos, e também não nos esqueceremos
da barbárie em Gaza.

Da barbárie em Gana.

Da barbárie em Libéria.

Da barbárie em Haiti.

Da barbárie.